24 de out. de 2007

Está bonito, está!






*200 mil arrancam a máscara ao governo Sócrates - Miguel Urbano
Rodrigues, jornalista, 22Out*



O que está a passar-se em Portugal no ano 2007 é do domínio do
inimaginável.
Uma fúria destruidora de inspiração ultramontana é o denominador
comum das medidas daquilo que o dirigente máximo do Partido Socialista
define como as suas reformas modernizadoras.

Essa estratégia de reaccionarismo vandálico está arrasando o que
restava da herança do 25 de Abril, criando em Portugal a sociedade
europeia de maior desigualdade, um país onde mais de dois milhões vivem
já abaixo do nível da pobreza, uma terra de grandes senhores e servos de
novo tipo.


As estruturas da educação e da saúde estão a ser demolidas num ritmo
vertiginoso. A investida contra os reformados intensifica-se.
Maternidades, urgências, centros de saúde são fechadas.

Argumentos próprios de um palco de revista são invocados em defesa da
ofensiva contra a Função Publica, e os professores, nomeadamente, são
tratados como se fossem um rebanho.
Privatiza-se tudo desde as estradas aos correios. A Polícia entra já
pelos sindicatos para intimidar e desmobilizar os trabalhadores.

A agricultura foi arruinada e as melhores terras, sobretudo no
Alentejo, passam a mãos espanholas. Estamos transformados num país
parasita que consome muito mais do que produz.

A indústria, controlada por um punhado de transnacionais, definha.
A banca, envolvida em escândalos, engorda desmesuradamente.
O salário mínimo é o mais baixo da UE antes do alargamento; os
vencimentos dos gestores são os mais elevados do Continente.
As falências de pequenas e médias empresas sucedem-se em ritmo
alarmante.


A dívida externa bruta - que quase duplica o produto interno bruto -
é já em valor absoluto superior à do Brasil, país com 200 milhões de
habitantes. A palavra "flexigurança" entrou na moda para justificar
despedimentos. O desemprego não pára de crescer.

O panorama é de pesadelo, mas Sócrates quando vai ao Parlamento assume a
postura de cônsul romano em vésperas de celebração do seu triunfo. Tal
como ocorria na época do fascismo, o governo inverte a realidade.

Do país atrasado da Europa Ocidental exibe, como ocorria na época do
fascismo, a imagem mítica de uma sociedade desenvolvida, tranquila, rumo
a um futuro promissor.

A ditadura da alta burguesia de fachada democrática - pois esse é o
regime que nos oprime - enfrentaria dificuldades se a imprensa, a
televisão e a rádio cumprissem com um mínimo de dignidade a sua função
social. Mas isso não acontece. O espectáculo oferecido pela comunicação
social é decepcionante.

Não há um jornal de referência, um canal de televisão, uma rádio com
audiência nacional que não estejam ao serviço do poder. É, alias, minha
convicção que as chefias na imprensa portuguesa são hoje mais submissas
ao Poder politico e económico do que as que conheci nos anos 50 ao
iniciar-me no jornalismo, no auge do fascismo.


Foi por isso com evidente incómodo que a generalidade da comunicação
social se referiu à manifestação de 18 de Outubro. Percebe-se.

Não é todos os dias, em qualquer país do mundo, que 200 mil pessoas
descem à rua para pôr em causa o governo. O mar de gente manchou a festa
de Sócrates no Parque das Nações, dando a ver aos convidados os limites
do poder de persuasão do primeiro ministro português.

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